AMARGURA


Para os amargos, os heróis e os loucos sempre foram fascinantes: eles não têm medo de viver ou morrer. Tanto os heróis como os loucos são indiferentes diante do perigo, e seguem adiante. O louco se suicida, o herói se oferece ao martírio em nome de uma causa – mas ambos morrem, e os amargos passam muitas noites e dias comentando o absurdo e a glória dos dois tipos. É o único momento em que o amargo tem força para galgar sua muralha de defesa e olhar um pouquinho para fora; mas logo as mãos e os pés cansam, e ele volta para a vida diária.

O amargo crônico só nota a sua doença uma vez por semana: nas tardes de domingo. Ali, como não tem o trabalho ou a rotina para aliviar os sintomas, percebe que alguma coisa está muito errada – já que a paz destas tardes é infernal, o tempo não passa nunca, e uma constante irritação manifesta-se livremente.

Mas a segunda-feira chega, e o amargo logo esquece os seus sintomas, embora externamente blasfemando contra o fato de que nunca tem tempo para descansar, e os fins-de-semana passam muito rápido.

A única grande vantagem da doença, do ponto de vista social, é que já se transformara numa regra. Os amargos não constituem uma ameaça à sociedade, já que – por causa das altas muralhas construídas ao redor de si mesmos – estão totalmente isolados do mundo, embora pareçam partilhar dele.

Fonte: Pontal de São João (Postado via IPad)
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2 comentários:

  1. NAO ME ATENDE E AINDA NAO POSTA A MINHA OPINIÃO ...

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  2. Se seus sonhos forem maiores que voce, alargue suas asas, esqueça seus medos e faça como uma aguia, decole bem alto, porque o sonho mais ousado que voce tiver, ainda sera pequeno, comparado aos que DEUS tem para voce! Deus te abençoe e guie seus passos hoje e sempre... Boa noite!!! (m)

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