IFF E DEMOCRACIA, O REENCONTRO


"Em 1986, com o Brasil saindo de 21 anos de ditadura militar, a então Escola Técnica Federal de Campos fez história ao ser a primeira em todo o país a eleger democraticamente seu diretor. Escolhido pelo voto, o professor Luciano D’Ângelo fez uma administração de destaque, que depois, despojado de projetos megalômanos de poder, naturalmente o credenciou ao ingresso na política partidária. Aquele foi um momento muito bonito, não só da escola, mas de toda Campos enquanto coletividade na qual aquela estava inserida, prova inconteste de que, para o bem e para o mal, os muros que separam uma da outra devem ser transpostos sempre que a necessidade se impuser.

Duas décadas depois, por motivos reais inconfessos, essa história marcada pela vanguarda democrática começou a ser manchada justo quando a mais importante instituição de ensino de Campos e região deveria alcançar seu maior esplendor, com a passagem para Instituto Federal Fluminense (IFF), a partir da lei federal 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Antes disso, sabendo da elaboração da nova lei, o grupo da direção geral que seria transformado em reitoria começou a revelar o caráter de um plano arquitetado com muita ambição e pouco talento, visando à perpetuação no poder. Na primeira manifestação dessa psicopatia política, a vítima foi o campus de Macaé, privado de eleger democraticamente seu diretor, como estava previsto para fazer em julho de 2008 e a exemplo do que vinha fazendo desde 1994.

Infelizmente, esse retrocesso democrático não seria o único a brotar da mesma fonte e pelos mesmos motivos. Em 30 de março de 2009, numa reunião da reitora com seus pró-reitores, ela teria anunciado a intenção de manter sua indicação ao diretor do campus Campos-Centro por nada menos que três anos, período no qual a comunidade acadêmica do mais importante campus do IFF seria também privada do direito ao voto. A denúncia foi feita em carta aberta pelo professor Jefferson Azevedo, eleito como vice da diretora geral feita reitora, que entregou seu cargo de pró-reitor naquela mesma reunião e rachou o grupo.

Ainda em 2009, a 28 de dezembro, a vocação antidemocrática do grupo da reitoria perdeu qualquer vergonha para descer ao nível mais baixo da mesquinhez. Diretor do campus de Cabo Frio, o professor César Dias foi não apenas exonerado do cargo, como obrigado pela reitoria a voltar a lecionar em Campos, depois de já instalado com toda sua família no outro município. O motivo: o professor “ousou” não se alinhar aos donos do poder do IFF, preferindo ficar ao lado da comunidade acadêmica que dirigia e tinha opinião própria para a eleição do Conselho Superior. Para continuar em Cabo Frio, ao lado da sua família, César Dias teve que recorrer à Justiça.

Mudou o ano, mas não o caráter das ações daquele grupo. Em fevereiro de 2010, o IFF voltou a macular sua história democrática ao ser um dos últimos no Brasil a dar posse ao mesmo Conselho Superior, numa tentativa até infantil de se adiar as eleições para diretores dos campi Campos-Centro e Macaé, cujas campanhas ficaram reduzidas a apenas cinco dias. O objetivo, em outra mostra de mesquinhez infantil, era diminuir ao máximo o contato eleitoral dos candidatos da oposição e suas propostas com estudantes, professores e servidores.

Foi também em 2010 que o caráter despótico do comando do IFF aparentemente rompeu os limites da legalidade. Pelo menos este foi o entendimento do Ministério Público Federal, que recomendou a anulação de um concurso público para jornalista gabaritado e vencido pela noiva do diretor responsável pelo mesmo concurso. Como a denúncia do MPF ainda espera julgamento da Justiça, não se cabe condenar ninguém previamente, embora aqui caiba como luva o velho ditado sobre a mulher de César, aquela a quem não basta ser honesta, é preciso também parecer.

Como cedo ou tarde os julgamentos ocorrem, quem tanto atentou contra a democracia não mereceria melhor sorte em seu exercício. Mesmo com todas as facilidades dos que estão no poder, os donos dele no IFF foram humilhantemente desapropriados nas eleições da última quarta-feira, em todos os quatro cargos disputados, para diretor dos campi Campos-Centro, de Macaé e de Bom Jesus do Itabapoana, além da própria reitoria. Na iminência daquele fim trágico e melancólico, ainda que previsível, o grupo da reitoria ainda deu seu último suspiro autocrático ao tentar impugnar os votos de mais de dois mil estudantes pela alegação de irregularidade em apenas sete deles.

Para garantir a vontade expressa dos alunos nas urnas, a apuração da eleição demandou a presença da Polícia Federal. Lição por certo severa, mas de um didatismo a toda prova para todos, dentro e fora da escola, sobre o tipo de política que seus dirigentes vinham praticando.

Reeleito para o campus Campos-Centro, o professor Jefferson, em meio às comemorações da vitória, não escondeu seu lamento: “Triste que uma escola marcada por ter sido a primeira no Brasil a escolher democraticamente seu diretor, hoje seja obrigada a ter a Polícia Federal como mediadora da sua eleição”.

Com as medidas anunciadas pelo reitor eleito Luiz Augusto Caldas, de abrir mão da sua prerrogativa de indicar para permitir a eleição dos diretores dos campi Guarus, Cabo Frio, Quissamã e Itaperuna, coisa que a atual reitoria nunca pensou em fazer, e com a transferência desta para sede própria, visando dar autonomia ao campus Campos-Centro, coisa que a atual reitoria se negou a fazer, o IFF parece destinado a reencontrar sua natureza libertária. Muito embora essa retomada possivelmente vá enfrentar a oposição biliar dos que foram destronados pelo voto, responsáveis em tempos idos pelo famigerado e apócrifo jornal “A Tocha”, com os mais baixos ataques pessoais e caluniosos a todos seus adversários, cujos grunhidos ainda ecoam, hoje dublados virtualmente, isso não pode ou deve obstar quem conta com a luz da democracia para espargir as sombras de um despotismo mal disfarçado em sua arrogância, condenado pelo voto à aposentadoria.

Dentro e fora dos muros da escola, esse reencontro do IFF com a democracia, mais que desejo, é exigência."

Por Aluysio Cardoso Barbosa - Folha da Manhã (Postado via IPad)
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Um comentário:

  1. Contrato de exclusividade violado

    Uma fraude! Alguns professores do IFF com dedicação exclusiva estariam usando o tempo que deveria servir para pesquisa e extensão para arranjar outros empregos na iniciativa privada.
    A lista dos nomes dos professores foi levada pela direção ao TCU, para apuração do caso.
    A fraude teria causado danos financeiros. Os professores, mesmo sem ter direito, ganhavam a gratificação por dedicação exclusiva. Eles são acusados de exercer atividades remuneradas não autorizadas, desobedecendo ao regime de dedicação exclusiva do IFF.
    Os professores cometeram ato de improbidade administrativa e atentaram contra os princípios importantes da administração pública: lealdade, moralidade e legalidade. Além disso, o desrespeito ao regime de dedicação exclusiva contou com a cumplicidade de instituições particulares que também serão citadas no processo, pois representou enriquecimento ilícito do docente e gerou prejuízo aos cofres públicos.

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