
Segundo Mendes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era uma "central de divulgação" dessas informações. O G1 consultou a assessoria de Lula, que informou que o ex-presidente não comentará as declarações.
Reportagem da revista "Veja" publicada no último final de semana
relatou encontro entre Mendes e o ex-presidente no qual Lula teria
supostamente pressionado o ministro com o objetivo de adiar o julgamento
do mensalão. Em troca, segundo a revista, teria oferecido a Mendes
proteção na CPI do Cachoeira, em razão de uma viagem do ministro a
Berlim, em companhia do senador Demóstenes Torres. Segundo a revista,
"boatos" davam conta de que a viagem teria sido patrocinada pelo
bicheiro. Mendes disse que viajou com recursos próprios. Demóstenes
afirmou que não viajou junto com o ministro.
Na segunda (28), em Manaus, Mendes reafirmou o que diz a reportagem de "Veja" (leia: "Gilmar Mendes confirma que conversou com Lula sobre mensalão") e Lula se disse "indignado".
"Não viajei em jatinho coisa nenhuma. Até trouxe para vocês para vocês
[documentos] para encerrar esse negócio. Vamos parar com fofoca. A gente
está lidando com gângsters. Vamos deixar claro: estamos lidando com
bandidos. Bandidos. Bandidos que ficam plantando essas informações",
declarou Mendes em conversa com jornalistas no Supremo Tribunal Federal.
Mendes apontou a existência de uma "armação" com o objetivo de atingir o
STF, que deve julgar ainda neste ano o processo do mensalão, escândalo
de suposta compra de apoio político de parlamentares durante o governo
Lula.
"Claro que isso é uma armação, obviamente. Mas não é para me atingir.
As minhas posições em direito penal vocês conhecem. Era para atingir o
tribunal, criar um clima de corrupção geral, era esse o objetivo",
declarou.
Indagado se Lula tinha relação com isso, ele afirmou que recebeu
"notícias" de que o ex-presidente era uma "central de divulgação" dessas
informações.
"Ele [Lula] recebeu esse tipo de informação. Gente que o subsidiou com
esse tipo de informação e ele acreditou nela. Vamos encerrar com isso"
declarou.
Perguntado se Lula estava repassando essas informações, Mendes afirmou:
"As notícias que me chegaram era que sim. De que ele era a central de
divulgação disso. O próprio presidente".
Mendes admitiu ter viajado duas vezes para Goiânia em aeronaves disponibilizadas por Demóstenes Torres. De acordo com o ministro, uma das viagens foi na companhia de Jobim e do ministro do STF Antônio Dias Toffoli. Na ocasião, em 2010, os três teriam participado de um jantar na capital de Goiás.
Na segunda viagem a convite de Demóstenes, detalhou o ministro, ele foi
paraninfo de uma formatura. Mendes afirmou que Toffoli e a ministra do
Superior Tribunal de Justiça (STJ) Fátima Nancy Andrighi o acompanharam
no voo.
"Vamos dizer que o Demóstenes me oferecesse uma carona num avião, se
ele tivesse. Teria algo de anormal? Eu fui duas vezes a Goiânia a
convite do Demóstenes. Uma vez com Jobim e Toffoli. E outra vez com
Toffoli e a ministra Fátima Nancy. Avião que ele colocou à disposição.
Tudo combinado e muitos de vocês já ouviram. Tenho tudo anotado. Era
avião da empresa Voar. Foi tudo combinado, público. Eu não estava
escondendo nada. Por que esse tipo de notícia? Vamos dizer que eu
tivesse pego um avião se ele tivesse me oferecido? Eu tinha algum
envolvimento com o eventual malfeito dele? Que negócio é esse? Grupo de
chantagistas, bandidos. Desrespeitosos", declarou o ministro.
EntrevistaConfira abaixo a transcrição dos oito primeiros minutos da entrevista de Gilmar Mendes:
Pergunta - Como fica essa história que o ministro Jobim disse,
que não teve esse teor de conversa exatamente como o senhor falou? Um
diz uma coisa, outro diz outra.
Se eu fosse Juruna eu gravava a conversa, né? Ficaria interessantíssimo.
Se eu fosse Juruna eu gravava a conversa, né? Ficaria interessantíssimo.
Pergunta - O que o senhor acha da situação toda? Leu a Carta Maior? A informação de que o senhor teria viajado num jatinho?
Não viajei em jatinho coisa nenhuma. Até trouxe para vocês para vocês [documentos] para encerrar esse negócio. Vamos parar com fofoca. A gente está lidando com gangsters. Vamos deixar claro: estamos lidando com bandidos. Bandidos. Bandidos que ficam plantando essas informações. Vocês se lembram do Gilmar de Mello Mendes [em 2007, o nome "Gilmar de Melo Mendes" apareceu em uma suposta lista da Polícia Federal de suspeitos de receber "presentes" da empresa Gautama, suspeita de fraudes em licitações. Posteriormente, a PF disse que se tratava de um homônimo, ex-secretário no governo de Sergipe].
Não viajei em jatinho coisa nenhuma. Até trouxe para vocês para vocês [documentos] para encerrar esse negócio. Vamos parar com fofoca. A gente está lidando com gangsters. Vamos deixar claro: estamos lidando com bandidos. Bandidos. Bandidos que ficam plantando essas informações. Vocês se lembram do Gilmar de Mello Mendes [em 2007, o nome "Gilmar de Melo Mendes" apareceu em uma suposta lista da Polícia Federal de suspeitos de receber "presentes" da empresa Gautama, suspeita de fraudes em licitações. Posteriormente, a PF disse que se tratava de um homônimo, ex-secretário no governo de Sergipe].
É o mesmo nível de informação. Estamos lidando com gângsters. Está
aqui. A minha viagem para Berlim, a partir de Granada. Voces têm todos
os documentos com hotéis. Tem o voo TAM voltando de....
Chega de lidar com bandidos. Gângsters. Pegam essas informações e ficam
plantando. Que nível. E com pouca inteligência. Aparece o Demóstenes
dizendo lá que estava comigo. Guarulhos, Brasília com os pontos. Vamos
parar com confusão, vamos parar com molecagem.
Vamos encerrar isso. Negócio de viagem. Por que não se esclarece isso?
Vamos dizer que o Demóstenes me oferecesse uma carona num avião, se ele
tivesse. Teria algo de anormal? Eu fui duas vezes a Goiânia a convite do
Demóstenes. Uma vez com Jobim e Toffoli. E outra vez com Toffoli e a
ministra Fátima Nancy. Avião que ele colocou à disposição. Tudo
combinado e muitos de vocês já ouviram. Tenho tudo anotado. Era avião da
empresa Voar. Foi tudo combinado, público. Eu não estava escondendo
nada. Por que esse tipo de notícia? Vamos dizer que eu tivesse pego um
avião se ele tivesse me oferecido? Eu tinha algum envolvimento com o
eventual malfeito dele? Que negócio é esse? Grupo de chantagistas,
bandidos. Desrespeitosos.
Mas eles não querem me constranger não, queriam constranger o tribunal.
É preciso encerrar de uma vez por todos com isso. Vamos encerrar com
isso. Não quero ter relação com bandidagem e quem está fazendo isso é
bandido.
É a mesma história de Gilmar de Mello Mendes. [Agora voltam com essas
historinhas.] Hoje tem um roteiro no "Valor" dizendo das investigações:
"Viagem a Berlim". Vocês sabem que desde 1979 frequento a Alemanha a
todo tempo. Tenho uma filha que mora lá. Dou aula lá. Sou professor de
Granada. Todo ano vou lá. Vocês vão ver, a minha passagem é tirada pelo
Supremo. Quem pagou? Eu preciso que alguém pague a minha passagem,
gente? O meu livro "Curso de Direito Constitucional" vendeu de 2007 até
agora 80 mil exemplares. Dava para dar algumas voltas ao mundo. Não é
viagem a Berlim. Vamos parar de conversa. Eu não preciso de ficar me
apropriando de fundo sindical e nem de dinheiro de empresa.
Pergunta - Quando o senhor se refere a bandidos o senhor está se referindo às pessoas que fizeram as gravações?
Gente que está usando esse tipo de informação. É coisa de gangsterismo.
Gente que está usando esse tipo de informação. É coisa de gangsterismo.
Pergunta - Onde o presidente Lula entra nessa história?Ele
recebeu esse tipo de informação. Gente que o subsidiou com esse tipo de
informação e ele acreditou nela. Vamos encerrar com isso.
Pergunta - Ele estava passando essas informações adiante?As notícias que me chegaram era que sim. De que ele era a central de divulgação disso.
Pergunta - Quem era a central?O próprio presidente.
Estive com o embaixador Everton Vargas (em Berlim), que foi designado
pelo Lula. Quem vai para Berlim clandestinamente vai a embaixada? Coisa
de moleque e de baixa inteligência. É gente que não tem [meio] neurônio.
Para esclarecer tudo isso bastava um telefonema para a embaixada. Não
precisava se fazer essa rede de intriga que está se fazendo. Chega
disso.
Pergunta - Quando o senhor diz que estão tentando coagir o Supremo, o que quis dizer?O objetivo era melar o julgamento do mensalão. Dizer que o Judiciário está envolvido em uma rede de corrupção. Era isso. Tentaram fazer isso com o Gurgel e estão tentando fazer isso agora. Porque desde o começo eu assumi e não era para efeito de condenação. Todos vocês conhecem as minhas posições em matéria penal. Eu tenho combatido aqui o populismo judicial e o populismo penal.
Pergunta - Quando o senhor diz que estão tentando coagir o Supremo, o que quis dizer?O objetivo era melar o julgamento do mensalão. Dizer que o Judiciário está envolvido em uma rede de corrupção. Era isso. Tentaram fazer isso com o Gurgel e estão tentando fazer isso agora. Porque desde o começo eu assumi e não era para efeito de condenação. Todos vocês conhecem as minhas posições em matéria penal. Eu tenho combatido aqui o populismo judicial e o populismo penal.
Mas por que eu defendo o julgamento? Porque nós vamos ficar
desmoralizados se não o fizermos. Vão sair dois experientes juízes, que
participaram do julgamento anterior, virão dois novos, que virão
contaminados por uma onda de susp.... Por isso, o tribunal tem que
julgar neste semestre. Por isso que tem que julgar logo. E por isso essa
pressão para que o tribunal não julgue. Vamos encerrar com isso.
Agora, eu que viajo o mundo, vou quatro vezes por ano à Comissão de
Veneza, sou o representante do Brasil na comissão, preciso de alguém
para pagar passagem para mim? Vamos parar de futrica. Não preciso ficar
extorquindo van para obter dinheiro. O que é isso? Um pouco mais de
respeito, p....
Pergunta - Réus do mensalão estariam envolvidos nessa tentativa de melar o julgamento?Sei lá, mas alguém construiu essa lógica burra, irresponsável, imbecil. Mas construiu.
Pergunta - O senhor quando diz que o presidente Lula é a central de divulgação disso tudo...Colegas de vocês que me disseram isso.
Pergunta - Quando o senhor falou que o presidente Lula tocou no
assunto CPI, o senhor falou 'vai fundo na investigação'. Como ele
reagiu?Ele ficou decepcionado e disse assim: "E Berlim?" Aí eu expliquei a ele que em Berlim eu ia tanto quando ele ia a São Bernardo.
Pergunta - Por que o senhor avalia que ele ficou decepcionado?Alguém
passou essa informação infeliz para ele, errada. Esses roteiros meus de
viagem são públicos. Vocês podem pedir no meu gabinete. Eu não vou
escondido para lugar nenhum.
Pergunta - Na sua avaliação o presidente foi uma vítima desses gangsters ou estaria incluído nesse grupo de pessoas?Acho que ele está sobreonerado com isso. Estão exigindo dele uma tarefa de Sísifo.
Pergunta - E essa tarefa seria adiar o julgamento?
Evidente que... [a tarefa dele seria adiar o julgamento].
Evidente que... [a tarefa dele seria adiar o julgamento].
Fonte: G1
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