
Institutos de pesquisa apontam que entre os anos de 2000 a 2010, 623 políticos foram cassados por denúncias de corrupção, dentre eles, quatro governadores e vices; os demais são senadores e respectivos suplentes, deputados federais, deputados distritais, prefeitos, vices e vereadores.
Com base nessas informações, concluímos que no Brasil a judicialização do processo eleitoral tem dado origem a uma espécie de 3.º turno, que para alguns também é conhecido como o famoso “tapetão”, ou seja, ganha no voto, mas não assume o mandato por implicações judiciais. Nesta esteira de pensamento, a corrida por um mandato eletivo desafia que o candidato tenha duas preocupações: ganhar o voto do eleitor e se proteger das vicitudes que o deslegitimam perante a Corte de Justiça Eleitoral.
Envoltos nesta nova realidade, candidatos que acompanharam esta evolução têm colocado ao seu dispor verdadeiros “staffs” jurídicos constituídos por profissionais especializados em direito eleitoral e com prática jurídica em eleições.
Muito embora, saibamos que em termos de sufrágio deverá sempre prevalecer a vontade do eleitor através do voto, na prática, a realidade é outra. A cada eleição tem se notado que o número de cassações vem aumentando, o que comprova que a eleição no país esta cada vez mais judicializada.
Diante deste quadro fica a pergunta: a sentença judicial poderá substituir a vontade popular? O questionamento requer algumas ponderações. A primeira gravita em torno da vontade, ou seja: se há questionamento legal do voto é porque existe um liame de condutas.
Isto porque, só há compra e venda de votos quando a modalidade corruptiva utilizada pelo candidato é aceita pelo eleitor. A segunda, de caráter politico, é facilmente evidenciada quando se observa a carência no ordenamento jurídico pátrio de instrumentos rígidos de combate a corrupção eleitoral. Nesta vertente, a Justiça Eleitoral não pode ser responsabilizada por ainda existir no país a cultura da compra de votos e a nítida omissão legislativa.
Esperar que a Justiça Eleitoral dite o rumo da Democracia no país é pura demagogia. Enquanto os eleitores não romperem o cordão umbilical que os tornam cumplices das vilanias praticadas por maus políticos, serão considerados também co-responsáveis pelo crescente processo de judicialização das eleições no país.
Se há cassações de mandatos é porque na maioria das vezes há corrupção. Se há compra de votos é porque existe alguém que o vende, e mais: quem participa deste ciclo vicioso não pode se revoltar e nem derramar lágrimas quando a vitória nas urnas não representar a vontade daqueles que revestidos de sua toga decidirem indiretamente quem deve ou não assumir o mandato.
Não podemos permitir que a partir desta ótica, venhamos fazer parte de um exército dos sem-votos, dos sem-vontades, habitantes de uma República onde a consciência é comprada e a Democracia é de aparência.
* Tiago Santos é Advogado, especialista em direito Constitucional, Administrativo, Tributário e Eleitoral.
Fonte: Blog do Roberto Barbosa (Postado via IPad)
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