BARRACO NA ALERJ


 "Eu honro as saias que visto. Não precisa de nenhum laudo de fonoaudiólogo. A voz é minha, eu estava exercendo meu legítimo direito de articulação política", disse a deputada Janira Rocha (PSOL), na tarde desta quinta-feira (9), na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), sobre as gravações em que o cabo bombeiro Benevenuto Daciolo convesa com os chefes da greve da polícia na Bahia.

Exaltada, ela falou em plenário em resposta à deputada Cidinha Campos (PDT), que disse que ia pedir à Corregedoria da Casa que avaliasse o comportamento da colega, já que tinha obtido um laudo pericial que atestava ser de Janira a voz nas gravações.

O bate-boca entre as deputadas aconteceu logo depois da votação que aprovou o aumento dos servidores da área da saúde. As duas deputadas fizeram discursos enfáticos e agressivos uma contra a outra antes do início da votação dso destaques à proposta aprovada de aumento para a segurança.


Fora dos microfones do plenário da Alerj, Janira disse que não incentivou uma greve de agentes da segurança, mas apenas fez articulações políticas. "Que democracia é essa que um parlamentar que supostamente tem imunidade tem seu comportamento criminalizado?", questionou.
A deputada disse ainda que em nenhum momento houve uma articulação para se fazer uma greve no carnaval. "A greve às vésperas do carnaval é muito prejudicial para o Rio. As lideranças não estavam contando em fazer a greve no carnaval. Os trabalhadores contavam que o carnaval pudesse pressionar o governo a negociar", explicou Janira, ressaltando que em nenhum momento houve uma articulação contra o carnaval.
A deputada disse que não cometeu qualquer ilegalidade ao falar por telefone com o cabo bombeiro Benevenuto Daciolo, que estava na Bahia e na volta foi preso por incitamento à greve.
"A voz é minha, isso coloquei no Twitter, não tenho nada a esconder. Participei de reuniões e assembleias de trabalhadores e cumpri o papel de alertar para não radicalizarem o movimento; para que se houvesse greve, que fosse mantido 30% do efetivo para atender à população", afirmou.
Janira explicou que o cabo Daciolo saiu do Rio acompanhado por um juiz da Justiça Federal Militar que o chamou para ir à Bahia participar da negociação dos grevistas da polícia com o governo.

"Ele se sentou com pessoas do governo lá, esteve no prédio da Assembleia Legislativa de lá e esse juiz pode confirmar", garantiu.
Escutas autorizadas pela Justiça
Escutas autorizadas pela Justiça mostram que o cabo Benevenuto Daciolo, do Corpo de Bombeiros, foi orientado sobre estratégias para mobilização para a greve no Rio pela deputada estadual do Psol Janira Rocha.
Daciolo está preso desde a noite de quarta-feira (8) por crime militar. Segundo o comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Sérgio Simões, ele foi levado para Bangu 1 e ficará preso administrativamente por 72 horas.
Em telefonema, enquanto ele estava na Bahia, o cabo ouve da parlamentar uma recomendação para que tente influenciar o movimento dos grevistas baianos a não fechar acordo com o governo, pois isso enfraqueceria uma possível greve no Rio.
Janira Rocha : Daciolo, Daciolo, presta atenção. Está errado fechar a negociação antes da greve do Rio...
Daciolo: Tudo bem, tudo bem... sabe o que vou fazer agora??? Ligue para ele que eu vou embora daqui, não vou ficar mais aqui.
Janira Rocha: Eles não querendo que você avalize um acordo antes da greve do Rio. Depois da greve do Rio, muda tudo. Sabe como você vai ajudar eles? Voltando para o Rio, garantindo aqui. O governo vai fazer uma propostinha rebaixada para vocês, vai melhorar um pouquinho esse negócio que eles colocaram. E acho...se vocês garantirem a greve aqui, a mobilização aqui, vocês vão ajudar eles a liberar o Prisco, a ter uma negociação...
Cabral solicita gravações
O governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral solicitou ao governo da Bahia as cópias das gravações telefônicas, nas quais o Daciolo planejava estratégias de deflagração de atos grevistas no Rio. As escutas foram exibidas no Jornal Nacional nesta quarta-feira (8).
Em nota enviada à imprensa, Cabral diz que seu objetivo "é que sejam tomadas as providências cabíveis para a manutenção da ordem pública no Estado do Rio de Janeiro".
Confira a íntegra da mensagem enviada por Cabral ao governador Jacques Wagner.
"Prezado Governador Jacques Wagner,
Tomei ciência pelo Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão, que o bombeiro militar do Estado do Rio de Janeiro, cabo Benevuto Daciolo, manteve conversas telefônicas, gravadas com autorização da Justiça, com diversos interlocutores, nas quais planejava estratégia de deflagração de atos grevistas no meu Estado que, se deflagrados, colocariam em risco a ordem pública.
A fim de que eu possa tomar as providências cabiveis para a manutenção da ordem pública no Estado do Rio de Janeiro, solicito que me sejam enviadas cópias de todas as gravações que tenham tido como interlocutor o bombeiro militar acima referido ou qualquer outro servidor do Estado do Rio de Janeiro.
Agradeço desde já a colaboração do Estado da Bahia na manutenção da ordem pública no Estado do Rio de Janeiro.
Abraços,
Sérgio Cabral"
Outro lado
Ouvido pela equipe do Jornal Nacional por telefone, o cabo Daciolo disse não se recordar da conversa gravada e alegou estar participando de um movimento pacífico na Bahia.

Fonte: G1

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