Governo monta operação de guerra para socorrer o
bilionário Eike Batista; uma das propostas é obrigar a Petrobras a transferir
sua base de operações do pré-sal para o porto do Açu, em São João da Barra, no
Rio de Janeiro; Graça Foster já tem problemas demais para resolver, mas Eike
pode vir a se tornar o maior de todos; há a suspeita até de que o porto, mal
construído, corra o risco de afundar; argumento do governo é de que a quebra de
Eike faria mal à imagem do País; mas será que a socialização dos prejuízos é um
bom sinal para investidores externos?
247 - O governo federal, em conjunto com a Petrobras,
pode estar montando a mais arriscada manobra dos últimos anos. Trata-se da
operação para salvar da falência o empresário Eike Batista, que vendeu
promessas irreais a investidores do Brasil e do mundo e que, aparentemente, não
será capaz de entregar nenhuma delas.
O primeiro ponto do resgate passa pela empresa LLX,
responsável pelo Porto do Açu, em São João da Barra, no Rio de Janeiro. Quando
vendeu as ações desse projeto, Eike dizia ter memorandos de entendimento – os
famosos MOUs (memorandum of understanding) - com dezenas de empresas. Foi
exatamente, assim, que Eike embalou seu projeto. Entre os exportadores que se
instalariam no Açu, constavam empresas como Fiat, Votorantim, Cargill e muitas
outras. Nada disso, evidentemente, saiu do papel.
Depois, Eike passou a dizer que siderúrgicas
chinesas se instalaram no Açu. Entre elas, os grupos Wisco e Wuhan. Também não
deu em nada. Até a montadora Nissan foi vendida como potencial interessada no
porto.
Bom, ninguém veio, o Açu não passa de um grande
terreno com um píer construído – e, aparentemente, mal construído. Há a
suspeita de que as estacas possam afundar. Além disso, como não foi feita uma
baía, ou uma área de defesa no porto, as correntes marítimas impedem que navios
de maior porte atraquem no Açu, da forma como ele hoje está construído.
Este é o quadro atual. Apesar disso, no dia de
ontem, as ações do grupo EBX, que, ontem, enfrentavam mais um dia de terror,
tiveram algum refresco quando o jornal Valor Econômico divulgou que o governo
monta uma operação para salvar o homem que, até recentemente, prometia ser o
maior bilionário do planeta. O primeiro passo para o resgate passa pela
Petrobras, comandada por Graça Foster, que transferiria para o Açu sua base de
operações para o pré-sal. Assim, a Petrobras seria o primeiro e único cliente
de Eike.
Um detalhe importante é que, poucas semanas atrás,
vazou a história de que o embaixador do Brasil em Cingapura vinha sendo
pressionado para que convencesse o estaleiro Jurong a transferir suas operações
do Espírito do Santo para o Açu. Como o Jurong não veio, sobrou a Petrobras.
No governo, a percepção geral é a de que a quebra
de Eike poderia contaminar a imagem do Brasil no exterior. Por isso mesmo,
nasceu a ideia de socializar ainda mais seus prejuízos. Sim, ainda mais, porque
Eike já tomou R$ 6 bilhões no BNDES, segundo um levantamento do jornal Valor
Econômico. Entre os bancos privados, o maior credor é o Itaú Unibanco, com R$
1,7 bilhão.
Se for, de fato, confirmado o resgate de Eike, a
decisão do governo aumentará ainda mais a pressão sobre a Petrobras, que foi
transformada até em instrumento de campanha pela oposição, diante dos
resultados recentes, que frustraram investidores. Eike confia na tese de que
hoje é o que os americanos chamam de "too big to fail", ou seja,
"grande demais para quebrar". Mas talvez a socialização dos seus
prejuízos custe mais caro ao País – e também à imagem do Brasil – do que uma
eventual falência.
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